Depois do ensino remoto, cadê as propostas para educação midiática?
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No seu terceiro ano de pandemia, é perceptível como a educação estagnou - ou até piorou em alguns casos. O resultado do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2021, revelou uma diminuição na média de aprendizado em todas as séries avaliadas segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
As quedas tornam-se mais estruturais no 2º ano do ensino fundamental, onde a disciplina de língua portuguesa teve uma queda na média de 750 pontos, em 2019, para 725,5, em 2021. Em Matemática a média que era de 750 foi para 741 no mesmo intervalo de dois anos.
Os principais especialistas já indicavam que o período da pandemia, com o ensino à distância, seria inevitável para uma diminuição da aprendizagem. Porém, da mesma forma que não foi vista uma articulação entre esferas federal, estaduais e municipais para promover a escolaridade em tempos de exceção, o retorno presencial também veio sem planejamento e sem poder saber utilizar técnicas e metodologias que tiveram adesão no momento mais delicado que a educação teve nas últimas décadas.
As mídias digitais permitiram que a distância necessária para o cuidado com a nossa saúde fosse imposta e que os alunos garantissem o mínimo de escolaridade. Nem tudo foram flores - pelo contrário. Muitos conteúdos eram transmitidos em áudios de Whatsapp, em videoaulas gravadas e exibidas em emissoras públicas de televisão sem mensurar a qual série pertencia aquela informação e também as aulas síncronas, para quem conseguia ter mais aparato digital.
Em plena campanha eleitoral, seria de se esperar que os candidatos se voltassem sobre essas diversas experiências para montar seus planos de governos focados em educação e tendo a mídia - seja ela digital ou não - como um dos elementos a serem utilizados. Não foi o que aconteceu. Levantamento feito pelo Futura mostra que nenhum candidato abordou sobre educação midiática em seus planos de governo, disponibilizados no DivulgaCand, até 20 de setembro.
Ciro Gomes, Lula, Padre Kelson, Sofia Manzano e Vera não fazem menção alguma sobre esse tema ou correlatos. Eymael, Simone Tebet e Felipe D´Avila, de forma bem abstrata, afirmam que vão fornecer acesso a equipamentos de informática, internet e banda larga nas escolas. Não trazem nenhuma intenção pedagógica do que fazer com eles. Bolsonaro cita somente o Grapho Game, um aplicativo que já foi criticado por especialistas e voltado para a alfabetização. O programa de governo de Léo Pericles fala mais de trazer tecnologias, mas não diz o que fazer com elas pedagogicamente. Enquanto Soraya Thronicke claramente afirma que quer “fomentar a implantação do ensino híbrido nas escolas, com acesso à internet e equipamentos necessários, em todo o Brasil e em todos os níveis de ensino. Rever a política de livros didáticos e priorizar a tecnologia (celulares e tabletes), quando possível”. Fica o questionamento - que não é de hoje - sobre como seria esse ensino híbrido na educação básica, ainda mais depois das experiências negativas do ensino à distâncias (apesar de serem dois módulos diferentes).
Os candidatos revisitaram suas propostas e ideias de 2018 para elaborarem seus programas de 2022, mas esqueceram que a educação - e a sociedade - viveu tempos completamente diferentes e que as mesmas respostas já não solucionam as novas perguntas impostas.