Artigo: Os presidentes deveriam ler o Enem

Enem: pouca ênfase em educação midiática e antirracista

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com o seu primeiro dia realizado no último dia 13 de novembro, testou os conhecimentos de 2,4 milhões de candidatos que foram tentar uma vaga no ensino superior através da prova. As questões eram de Ciências Humanas e Linguagens. Não é novidade que as temáticas que perpassam os itens da prova - principalmente, a redação - pautam o cotidiano escolar e os currículos abordados em sala de aula. Mas, a incoerência está no fato desses temas serem muito pouco debatidos por figuras públicas que deveriam ser os porta-vozes dela.

A educação midiática - não citada por nenhum candidato à presidência e pouco explorada nesses meses de transição - aparece diversas vezes, tal como ela é. Em uma das questões, há um manual sobre como lidar com mídias em diferentes fases da infância; em outra, um texto acadêmico mostra como a escolarização possibilita mais usos de tecnologias; outra notícias narra inovações tecnológicas produzidas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que levam mais informações para diferentes públicos…Ufa! Ah, sobre isso, também teve o sociólogo Manuel Castells sintetizando tudo isso com um texto que trazia as complexidades da atual sociedade da informação.

Não há como não discutir mídia e educação, e o Enem sabe disso e fez escolhas importantes para tratar sobre o tema e direcionar futuros debates. Para além das questões da mídia, a prova também fez o aluno refletir sobre outros problemas educacionais, que já existiam, e foram aprofundados com a pandemia. Inclusive, fazendo relações com o fenômeno da macrocefalia urbana, que promove uma série de ocupações desordenadas que desafiam o poder público. Não seria interessante ter prefeitos comentando aquilo que os alunos estão sendo avaliados? Não é uma questão de testar esses gestores, mas dar transparência ou seus - bons ou ruins - trabalhos e promover mais a discussão de temas relevantes.

A questão da invisibilidade, abordada no tema da redação do ano passado, volta a surgir em diversas frentes. Em uma, é tratada a ausência de registros de apátridas e como eles ficam numa situação de vulnerabilidade. Outra aborda, através de um gráfico, a interseccionalidade em termos de raça da mulher sem cônjuge e com filhos e, por fim, temos um item com um texto que detalha o silenciamento de línguas indígenas no país.

Os alunos que fizeram a prova viram, como apontou H. Arendt em um dos enunciados, que o discurso faz o homem político. A prova é uma declaração política. Quase um manifesto para que possamos olhar para temas fundamentais que perpassam nossa sociedade e colocamos na invisibilidade. Teremos uma geração que vai lembrar deles, mas deveriam ser também os gestores públicos os grandes propagadores desses desafios e promovedores de respostas.

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