13ª Bienal da UNE - Festival dos Estudantes: jovens, co.liga, autoridades, debates importantes e mais
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O encontro de estudantes para a 13ª Bienal da UNE (União Nacional dos Estudantes) - Festival dos Estudantes aconteceu na Lapa, bairro tradicional do centro do Rio de Janeiro, entre os dias 2 e 5 de fevereiro. O ponto de partida: "Reconstruir o Brasil pelas mãos dos estudantes e do povo".
A rica programação, organizada pelo Circuito de Cultura e Arte da UNE (CUCA), contou com oficinas, passeios turísticos, rodas de conversa, debates, atrações musicais e teatrais - tudo disposto em espaços dentro do centro cultural Fundição Progresso.
Juventudes e políticas públicas para a educação
Para abrir a 13ª Bienal da UNE, a primeira mesa de debates, no Palco São Sebastião (o principal do evento), teve a fala de Bruna Brelaz (presidenta da UNE), em que ressaltou a importância desta geração de jovens do país na luta pela reconquista de direitos. Vinicius Soares (ANPG) corroborou, destacando a potência das juventudes no protagonismo de ações importantes, lançando mão de uma comparação com os rios que fazem parte do território brasileiro para ilustrar essa força:
As juventudes são como os rios Tocantins, Paraná e São Francisco, que se juntam e se tornam mais fortes.
O secretário de juventudes da cidade do Rio de Janeiro, Salvino Oliveira, contou um pouco de sua história de vida (de origem periférica, foi acessado por políticas públicas de educação), inspirando os tantos jovens da plateia do palco São Sebastião.
Denise Pires, secretária de educação superior do Ministério da Educação, fez uma contextualização histórica sobre o início das universidades no Brasil, conectando-o com o momento atual em que vivemos: "Precisamos lutar contra este modelo que enxerga o Brasil como permanente colônia de exploração". E completou: "Que país é este que tem 200 anos de independência, mas não permite que seu povo alcance uma independência verdadeira?".
Os desafios que a população jovem brasileira enfrenta agora remetem a uma necessidade de retomada urgente por conta dos últimos anos de desmonte das políticas sociais voltadas às juventudes. E os dados das três edições da Pesquisa Juventudes e a Pandemia, coordenada pelo Atlas das Juventudes, em parceria com o Conjuve, a Fundação Roberto Marinho e outras instituições, comprovam isso.
Saiba mais sobre a Pesquisa Juventudes e a Pandemia
Nesse sentido, "a 13ª Bienal da UNE chega como um sopro de esperança", disse Marcus Barão, presidente do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), à Fundação. Para Barão, "é muito simbólico e relevante podermos reencontrar os jovens para discutirmos o Brasil a partir do olhar de estudantes, mas também da cultura, da educação e da transformação social. Este momento traz esperança, mas também nos provoca a olharmos para os desafios desta que é a maior geração de jovens do país".
Denise Pires, que foi reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro antes de ser nomeada secretária do MEC pelo atual governo, também conversou conosco sobre o marco que a 13ª Bienal da UNE representa: "Além de celebrarmos os 86, quase 87 anos da fundamental União Nacional dos Estudantes, precisamos ampliar a educação brasileira de qualidade - há muitos jovens, entre 18 e 24 anos, fora dos sistemas de ensino".
Quando perguntada sobre a educação básica no Brasil, Denise foi bastante clara: "Temos de oferecer oportunidade e acesso para pessoas que são 'menos jovens', mas que também precisam acessar a educação. Falo da Educação de Jovens e Adultos (EJA), passando, claro, pelo ingresso no ensino superior. Tudo isso, que impacta a reconstrução do país, passa pela recomposição orçamentária na área da Educação".
É necessário que continuemos lutando por um ensino superior gratuito, público, de qualidade, laico e inclusivo.
Saúde, economia criativa e cultura
Depois de participar do debate "Os afluentes da ciência na reconstrução nacional", com Luciana Santos (Ministra da ciência e tecnologia) e Fernando Pigatto (presidente do Conselho Nacional de Saúde - CNS), Nísia Trindade, a primeira mulher a assumir o comando do Ministério da Saúde na história do Brasil, compartilhou suas impressões conosco sobre como estava sendo tratar de saúde na 13ª Bienal da UNE:
"A importância é enorme. Quando falamos em 'saúde', não observamos adequadamente os diferentes ciclos de vida. E mesmo quando conseguimos fazer isso, tendemos a dar mais atenção às crianças e aos idosos, mas a juventude também precisa de um cuidado especial, justamente por ser uma fase da vida ligada a grandes escolhas e decisões".
No Espaço CUCA aconteceram oficinas, atividades e rodas de conversa. A co.liga, escola de economia criativa da Fundação Roberto Marinho em parceria com a Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), esteve presente. Tomas, jovem co.ligado de Maceió que estava no estande da co.liga, contou-nos sobre a experiência de vivenciar a 13ª Bienal da UNE:
"Poder encontrar jovens de todo o país, e até mesmo de outros países sulamericanos, para falarmos de economia criativa, da transição do ensino médio para o ingresso no mundo do trabalho por meio da co.liga; isso abre caminhos e novas perspectivas de vida para os jovens, mostrando que é possível".
Após a conversa com Tomas, teve início o debate sobre a atuação profissional do jovem na indústria da música: "Como planejar a entrada dos jovens artistas no negócio da música? Direitos autorais, distribuição e agenciamento", organizado pela coliga.
Vanessa Schütt, da União Brasileira de Compositores (UBC), reforçou o papel formador e educativo que um evento como a 13ª Bienal da UNE tem: "O mundo do direito autoral é complexo. Em encontros como este, podemos compartilhar informações até então desconhecidas pelos jovens - e pelos jovens artistas. A trajetória delas e deles é potencializada por uma maior educação sobre este meio já desde mais cedo, aumentando as chances de arrecadação por parte dos futuros compositores".
Para Ana Paula Paulino, da Ubuntu Produções, um momento de reunião de jovens de diversas partes do país e da América do Sul, como a 13ª Bienal da UNE, permite muita troca de experiência, o que acaba por alimentar a própria indústria musical: "Novidades de regiões mais distantes do eixo Rio-São Paulo, onde as grandes marcas, distribuidoras e gravadoras costumam mais estar, são mais facilmente descobertas quando as distâncias são encurtadas em reuniões de pessoas como a Bienal da UNE".
Rayane Brum, da distribuidora Altafonte, contou para a FRM como a participação no debate sobre direitos autorais afetou sua própria prática profissional: "Poder trocar com os jovens é o que há de melhor. Diariamente, lido com artistas já mais estabelecidos, ainda que alguns deles sejam independentes. O tempo passa e é em conversas como a que tive há pouco, com um jovem aqui, que me ajudam nessa reconexão com o que move esse mercado".
O ator e escritor Gregório Duvivier também esteve na 13ª Bienal da UNE. Ele participou da mostra e roda de conversa "A potência da palavra" com Eliana Alves Cruz (escritora, roteirista e jornalista, vencedora do Prêmio Jabuti de 2022), Cida Pedrosa (vencedora do Prêmio Jabuti 2020 e vereadora no Recife), Geovani Martins (autor de Via Ápia) e Dayrel Teixeira (Funkeiros Cult e influenciador literário). Em fala para a Fundação, Gregório avaliou que o momento é de reconhecermos nosso caráter plural: "Precisamos renascer, reinventar o Brasil, reconstruindo-o sobre novos pilares como as diversidades cultural, étnica e biológica. Existe uma história de erradicar nossa pluralidade, para que sejamos sempre um país de monocultura. Somos multiculturais".
Temos de incluir todas as diversidades que tentaram aplacar no Brasil, nos últimos anos. Refiro-me aos últimos 500 anos.
O debate "A cultura como eixo fundamental na reconstrução do Brasil" contou com Maria Marighella (presidente da Funarte), Rosa Amorim (deputada estadual de Pernambuco), Léo Suricate (JSM) e Jandira Feghali (Dep Federal RJ). Jandira compartilhou conosco os sentimentos distintos que as últimas três edições da Bienal da UNE lhe proporcionaram:
"Em 2021, tudo se deu de maneira virtual, por conta da pandemia. Em 2019, na Bahia, o foco era resistirmos ao governo que havia sido eleito no ano anterior. Agora, é a Bienal da virada. A sensação não mais é de resistência, mas de avanço".
Ainda no campo da cultura, a co.liga se fez presente mais uma vez na 13ª Bienal da UNE, com a oficina "Experimentação na linguagem audiovisual". No espaço Teatro de Anônimo, os participantes se organizaram em grupos e conceberam performances artísticas multifacetadas, em que exploraram interpretação, dança e diversas formas de expressão corporal.
Em conversa com Fabiana Cecy, coordenadora da co.liga pela Fundação Roberto Marinho, fica clara a importância da participação da escola de economia criativa na Bienal da UNE: "Fortalece a rede, a parceria e a articulação que temos diretamente com os estudantes, nosso público prioritário. Estarmos próximos a elas e eles, já que nossa plataforma é digital, é fundamental". E foi além: "Estamos aqui dando continuidade ao processo formativo, aprofundando as trocas e o acolhimento que vivenciamos nesse mundo, nessa nuvem, nesse universo digital".
Inclusão, participação popular, ritmo e poesia
A ministra da igualdade racial, Anielle Franco, participou do debate "Os rios que constroem nossa identidade: Um Brasil de todos nós" com Renê Silva (CPX) e Lúcia Klück Stumpf (professora da Universidade de São Paulo - USP).
Para a FRM, Anielle abordou a ocasião do ponto de vista de educadora: "Como professora que sou, sempre fico animada em estar com estudantes. Participar desta 13ª Bienal da UNE e compartilhar uma mesa de debates com gente como o Renê Silva me fortalece para voltar a Brasília e tocar o trabalho com seriedade".
A gente está aqui para resistir e ressignificar.
O debate "Como reinventar o aprendizado remixando cultura e arte" contou com Dudu do Morro Agudo (diretor do Instituto Enraizados), Taísa Machado (Estúdio Funk), MC Marechal e a mediação de Dedé Teicher.
Além de reforçarem a importância da educação na formação cidadã, não apenas da maneira formal, mas em formas alternativas e mais inclusivas, um aspecto esteve presente nas falas dos três artistas: a importância de existir um espaço onde funk, rap e hip hop possam ser debatidos.
Taísa ressalta: "Um movimento como o funk, que nasceu aqui no Rio, cresceu aqui, seguir marginalizado, não faz sentido. Estarmos no palco central da 13ª Bienal da UNE debatendo o funk, falando sobre o movimento, é algo que me deixa muito feliz".
Dudu refletiu sobre a arte como um caminho alternativo para o jovem excluído das escolas, dada a forma como a educação do país, historicamente, foi (e segue) organizada. No Instituto Enraizados, concebido por Dudu, o hip hop é utilizado como ferramenta de transformação social, calcado na formação artística e cidadã.
Dudu, falando para os jovens que estavam assistindo ao Palco São Sebastião, usou sua própria história de vida para ilustrar o poder de resgate que o rap tem: "Sempre fui um estudante que jamais queria ir à escola. Nada lá me convidava a ficar, não me sentia como parte daquilo. Foi justamente o que o rap me proporcionou, valorizando a diversidade, a criatividade, a busca pelo conhecimento, que me fez voltar à escola".
Ao falar sobre o projeto "Livrar", MC Marechal fez coro com os colegas de debate, conectando arte, educação e inclusão: "A ideia do Livrar surgiu quando, depois de ter feito um show, usei o que me pagaram para comprar livros e distribui-los no show seguinte". A ação, que começou em 2012, conecta literatura e rap, e já distribuiu milhares de livros. "Saí da escola na 6ª série. Quem me ensinou a ler e, em seguida, a querer retribuir foi o hip hop".
A 13ª Bienal da UNE - Festival dos Estudantes terminou, mas a mensagem que jovens de diversas partes do Brasil, lideranças e representantes do povo no poder público deixaram foi bastante clara: o país precisa olhar para as juventudes com dedicação, incluindo-as e mantendo-as no centro do debate, com protagonismo e espaço.
Fica também evidente a necessidade de nos reconhecermos enquanto um povo plural, diverso e criativo - racismo e preconceitos arrefecem nossa enorme potência.
Análises orçamentárias cuidadosas precisam ser feitas, dando conta da educação básica, claro, mas sem deixar de lado o ensino superior e a pós-graduação. Esses caminhos passam, necessariamente, pela pesquisa e pela ciência, que nos permitirão seguirmos de maneira mais consistente em direção a um projeto de nação realmente independente e próspera.
Que venha a próxima Bienal da UNE, em 2025.
Até lá, sigamos esperançando.