Escola em tempo integral: um compromisso com a educação básica
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Em encontro com o vice-presidente, gestores estaduais eleitos e lideranças da educação, essa modalidade foi apontada como uma das prioridades para os próximos quatro anos
Uma reunião realizada na quinta-feira (15) entre o vice-presidente Geraldo Alckmin, governadores e vice-governadores eleitos discutiu a importância das escolas em tempo integral como uma das agendas prioritárias para a educação nos próximos quatro anos. O encontro, realizado em Brasília, promovido pelo Todos Pela Educação, em parceria com a Unesco, apontou caminhos para enfrentar problemas agravados pela pandemia de Covid-19, como a evasão escolar.
Dados do Ipec, em estudo divulgado pelo Unicef no último mês de setembro, revelam que dois milhões de crianças e adolescentes entre 11 e 19 anos deixaram a escola sem concluir a educação básica. Para Marlova Neto, diretora da UNESCO no Brasil, o ensino em tempo integral pode contribuir para reduzir esses números: “Os governadores trouxeram muito como proposta a escola de tempo integral. Inclusive, como uma forma de justamente de aumentar a permanência de crianças, adolescentes e jovens na escola. Lembrando que a escola ocupa um ponto central na rede de proteção social, muitas vezes é a única refeição do dia para nossos estudantes, além de representar uma importante proteção da violência doméstica, do abuso, da negligência...”, afirma.
Segundo o Anuário Brasileiro de Educação Básica de 2021, a oferta de aulas em tempo integral no Ensino Médio aumentou nos últimos dez anos. Enquanto apenas 2,8% das escolas públicas ofereciam essa modalidade em 2011, o número mais que dobrou no ano de 2021, pulando para 13,8%.
O secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, João Alegria reforça que o ensino em tempo integral já é uma realidade no país e precisa ser ampliado para garantir a melhoria da educação: "Um dos compromissos que a nova gestão federal assume frente à população é o de aumentar a oferta de vagas em escola de tempo integral. Oferecer às crianças, adolescentes e jovens a oportunidade de ter mais tempo dedicado à sua educação é algo que tem dado certo em vários estados brasileiros, sendo muito interessante o novo governo assumir uma boa prática já existente em busca de uma educação de mais qualidade. Há desafios nessa modalidade, que envolvem desde a disponibilidade de espaços, professores e mais recursos, até a criação de atividades diversificadas que garantam também uma educação integral de todos os estudantes. É para o bem da educação no Brasil, inspirado em modelos já testados, estamos torcendo pra dar certo e pensando em como contribuir", pontua.
Preparação das redes para o ensino em tempo integral
Estado com apenas 3,2% das matrículas em escolas integrais, de acordo com o Anuário Brasileiro de Educação Básica de 2021, o Amapá enfrenta desafios ligados à sua realidade socioeconômica. Presente no encontro promovido pela UNESCO e Todos pela Educação, o próximo vice-governador do Amapá, Teles Junior, pontuou que “enquanto se está discutindo a universalização do tempo integral, a situação que vamos enfrentar agora é a retomada do ensino indígena das aulas de 2021, porque não tivemos professores disponíveis para lecionar”.
Mesmo com a tentativa de recompor o calendário escolar, a falta de professores na região é um problema estrutural. “No Amazonas como um todo é difícil ofertar escolas em comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas. Em algumas áreas só é possível chegar de avião”. É o caso do Parque Nacional das Montanhas do Tumucumaque, unidade de preservação localizada entre o Amapá e Pará, conforme explica Teles Junior.
Em contato com nossa equipe de reportagem, a pedagoga e doutora em educação Jaqueline Moll complementa que a pandemia aprofundou os problemas sociais, mas a desigualdade na educação é estrutural. Os alunos precisam estar em plena condição para aprender, senão o aumento da permanência na escola levará à evasão. “Casos em que a miséria é extrema impedem que aprendizagem aconteça. Crianças em situação de fome, pais e mães analfabetos, baixa escolaridade, falta de materiais e de políticas culturais são quadros que precisam ser enfrentados”, diz a professora titular da Faculdade de Educação da UFRGS.
Alfabetização, merenda, transporte escolar e práticas de aprendizagem também estiveram entre os principais assuntos discutidos na reunião com lideranças educacionais e gestores públicos eleitos. Dados da plataforma QEdu, com base na Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2021, mostram que apenas 5% dos alunos terminam a educação básica com aprendizado adequado em matemática, um número que cresce 26% para a língua portuguesa, o que, ainda assim, representa um insucesso, segundo o Todos pela Educação. Já na alimentação, o Observatório da Alimentação Escolar mostra que, desde 2017, o governo federal tem investido apenas R$ 0,36 centavos por aluno diariamente nos ensinos fundamental e médio.
Deste encontro, fica a expectativa por um pacto entre estados e governo federal. Segundo Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos pela Educação, um dos caminhos para a melhoria da educação básica passa pela união dos entes federativos: “Existe uma crença muito forte de que a união dos estados pode ser muito forte para que a gente consiga avançar com mais qualidade, menos desigualdade e mais rápido no campo da educação básica se a gente tiver um compromisso compartilhado entre os governadores, se a gente tiver uma troca de experiências mais ágil, mais célere entre eles, um aprendizado maior dentro do grupo de governadores e se houver também uma união dos governadores, do coletivo de governadores junto ao Congresso Nacional, junto ao Governo Federal e também apoiando os municípios pra fazer com que essas pautas defendidas pelos estados tenham uma força muito amor”, disse Priscila.