Notícia: Recomposição de aprendizagens: passo a passo

Recomposição de aprendizagens: passo a passo

Após mais de dois anos de suspensão de atividades pedagógicas presenciais nas escolas, devido à pandemia, as redes de ensino se veem diante de um desafio urgente: a recomposição/recuperação da aprendizagem.

Para que esse desafio seja cumprido, é fundamental que as redes promovam ações para combater a desigualdade social que se intensificou durante o isolamento, aumentando ainda mais o abismo educacional já existente.

Não resta dúvidas de que a pandemia gerou impactos na saúde mental de todo mundo. Portanto, o acolhimento aos profissionais de educação e aos estudantes, o exercício da empatia e da solidariedade, além do desenvolvimento de competências socioemocionais são peças-chaves nesse novo contexto de ensino.

Somando forças para superar desafios

Diante de tantos desafios, é preciso unir esforços. Escolas e Secretarias de Educação têm trabalhado juntas para avaliar as lacunas de aprendizagem e criar estratégias para a recomposição dos saberes. É o que mostra a oitava onda da pesquisa realizada pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) com apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e Itaú Social.

Para as 3.245 Secretarias Municipais de Educação que participaram da pesquisa, as principais estratégias utilizadas para recompor aprendizagens são: reuniões mensais ou bimestrais com coordenadores e diretores (91%); visitas às escolas (90%); reuniões com professores (72%) e monitoramento dos resultados de avaliações internas (71%).

A falta de condições logísticas e de infraestrutura é um dos principais desafios apontados pelas redes de ensino. O que inclui: dificuldades de transporte escolar dos estudantes, alimentação para a participação em atividades presenciais no contraturno e falta de conectividade para realizar atividades de maneira remota.

Duas crianças, um menino e uma menina, estão sentados em um degrau de uma escada, de costas para quem os fotografou, enquanto mexem em um pequeno laptop.

Afinal, o que é a recomposição de aprendizagens?

A recomposição de aprendizagens é o conjunto de estratégias que visam garantir as aprendizagens comprometidas pelo período de distanciamento social, tendo como foco a redução das desigualdades educacionais e o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e competências adequadas a cada etapa.

Recuperação, reforço e recomposição de aprendizagens: tem diferença?

Embora sejam termos semelhantes, existe, sim, diferença entre eles.

A recuperação é a retomada de um conteúdo ou habilidade sobre o qual o aluno não obteve os resultados esperados, ao fim de um processo de ensino-aprendizagem.

Já o reforço escolar é um aprofundamento de um conteúdo ou habilidade que o aluno está com dificuldades para compreender. O reforço pode ser feito quando o educador ou até o próprio estudante percebe que não consegue entender bem o que está sendo ensinado.

Por fim, a recomposição é mais ampla do que o reforço ou a recuperação escolar, podendo englobar os dois. Ela tem como objetivo retomar todo processo de ensino-aprendizagem, que foi seriamente impactado durante a pandemia, sem se debruçar apenas sobre um único conteúdo ou habilidade.

Uma sala de aula com todos os assentos vazios.

Passo a passo para a implementação

A Fundação Lemann e o Instituto Natura desenvolveram um material bem completo, com cases e aplicações práticas, para apoiar gestores públicos ou servidores de Secretarias de Educação na implementação da recuperação de aprendizagens.

Fizemos um resumo do passo a passo, mas você pode conferir aqui o documento “Recomposição das aprendizagens: estratégias educacionais para enfrentar desafios da pandemia” na íntegra.

Passo a passo para a recuperação de aprendizagens:

1. Busca Ativa

A Busca Ativa é o passo inicial para identificar os estudantes que abandonaram ou evadiram da escola, a fim de promover a sua reinserção. Ela pode ser feita utilizando algumas estratégias, como:

Busca Ativa Escolar: estratégia composta por uma metodologia social e uma ferramenta tecnológica disponibilizadas gratuitamente para estados e municípios, desenvolvida pelo UNICEF, em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), com apoio do Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas) e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). A intenção é apoiar os governos na identificação, registro, controle e acompanhamento de crianças e adolescentes que estão fora da escola ou em risco de evasão. Por meio da Busca Ativa Escolar, municípios e estados têm dados concretos que possibilitam planejar, desenvolver e implementar políticas públicas que contribuam para a garantia de direitos de meninas e meninos. Saiba mais aqui.

Mobilização Comunitária: quando há uma comunicação direta entre a escola (diretores e professores) e a comunidade escolar (responsáveis e entorno da escola) para mapear esses estudantes e se aproximar deles. Estratégia intersetorial de gestão: quando são utilizadas ferramentas de gestão para o monitoramento da baixa frequência dos alunos, das causas da infrequência e evasão e para mapeamento de estudantes em situação de vulnerabilidade educacional que demandam acompanhamento pedagógico. Essas iniciativas costumam envolver atores do sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente (Ministério Público, Conselho Tutelar, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente -CMDCA) e Secretarias de Assistência Social e a Saúde, além da Secretaria de Educação.

Auxílio à permanência estudantil: são programas focados em auxílio financeiro para incentivar o estudante a permanecer na sala de aula, e não no mercado de trabalho.

Confira exemplos práticos de estratégias de Busca Ativa nas páginas 11 a 20 do documento “Recomposição das Aprendizagens”.

Alguns jovens caminham por um corredor de um ambiente que pode ser uma escola ou universidade.

2. Acolhimento e Clima Escolar

A pandemia de Covid-19 deixou traumas e impactou a saúde mental de professores e estudantes. Mais do que nunca, a escola deve ser um local de acolhimento, em que os alunos se sintam seguros para expressar suas emoções.

Para tanto, as redes de ensino devem estruturar projetos e programas que desenvolvam as competências socioemocionais, contempladas na BNCC, e contribuir para uma escola que promova a saúde mental e o bem-estar do aluno.

Confira exemplos práticos de estratégias de Acolhimento nas páginas 39 a 49 do documento “Recomposição das Aprendizagens”.

Assista à videoconferência do Conviva Educação sobre recomposição das aprendizagens.

3. Avaliação Diagnóstica

Para identificar as lacunas de aprendizagens dos estudantes é preciso fazer um bom diagnóstico. O objetivo é identificar o que cada estudante conseguiu aprender e o que ainda não conseguiu.

Em entrevista para o Futura, a coordenadora de projetos do Cenpec, Maria Alice Junqueira de Almeida, indica a plataforma do Ministério da Educação com o Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF) como instrumento para fazer esse diagnóstico.

Assista ao curso “Avaliação Diagnóstica”, disponibilizado na plataforma Conviva.

4. Flexibilização Curricular

Após o diagnóstico, o próximo passo é a flexibilização curricular. Em sala de aula, é natural que os alunos apresentem diferentes níveis de conhecimento após a pandemia. Por isso, a importância de rever o currículo proposto e selecionar os objetivos ou marcos de aprendizado considerados essenciais previstos no calendário escolar. As habilidades prioritárias da BNCC, ou seja, os conhecimentos necessários para o pleno desenvolvimento das competências, podem ser uma ótima ferramenta para essa flexibilização.

Este material desenvolvido pelo Movimento pela Base pode trazer subsídios para a implementação desta etapa.

Um professor está sentado à sua mesa, diante da turma de estudantes com idade em torno de 8, 9 anos.

5. Reorganização das atividades pedagógicas

Após a revisão do currículo, os gestores educacionais devem elaborar um planejamento que considere as continuidades e as rupturas, os novos e os antigos saberes da educação. Para isso, é fundamental voltar para o currículo da rede e os projetos político-pedagógicos das escolas, e para o potencial das tecnologias de informação e comunicação.

Faça o curso “Reorganização das atividades pedagógicas” disponibilizado pelo Conviva.

6. Acompanhamento das aprendizagens

Após fazer todas as etapas anteriores, é preciso identificar, registrar e analisar as aprendizagens, a fim de reorientar o ensino, de maneira a distinguir os processos individuais e coletivos, bem como os fatores que incidem sobre eles.

É necessário contar com instrumentos de acompanhamento que favoreçam a identificação de como cada estudante está em relação às aprendizagens esperadas para cada ciclo/ano de escolaridade (com base nos documentos curriculares), cada turma e escola.

Além desse passo a passo, os gestores de Educação podem encontrar na plataforma do Conviva cursos como o “Acompanhamento das Aprendizagens” e outras ferramentas gratuitas para ajudar na implementação.

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