Primeira matemática negra brasileira
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Matemática negra
Semana passada me deparei com a noticia de que o IMPA vai abrir a sua primeira graduação da história no Rio de Janeiro, fiquei pensando quantas pessoas negras terão acesso a essa oportunidade. Isso me levou a pensar sobre as primeiras matemáticas e os primeiros matemáticos do Brasil, como que foi desenvolver pesquisa em um campo tão excludente como a matemática. Essa indagação me levou à história da matemática brasileira Eliza Maria
Eliza foi uma pioneira da matemática no Brasil, sendo a primeira mulher professora no Instituto de Matemática e Estatística da Universidade Federal da Bahia (UFBA) a ter doutorado. Também foi a mulher negra brasileira com o título mais antigo de doutorado na área de matemática, a primeira a obter doutorado em matemática no Brasil, no ano de 1977, com a sua Tese intitulada “Álgebras não-associativas“, com menos de 50 anos, demonstrando como a área da matemática e seus desenvolvedores têm dificuldade em criar um ambiente fértil para pessoas negras prosperarem.
Ao longo de sua vida, Eliza sempre obteve desempenho acima da média: recebeu bolsa Philips, da Holanda, no ensino médio; passou em 2º lugar no vestibular da matemática na UFBA na década de 1960; em 1968, foi nomeada como professora de álgebra no IME-UFBA, fez seu mestrado na França com bolsa da UNESCO, e mesmo com todos esses feitos, eu só fui conhecer sua história depois dos 20 e poucos anos. Nos livros de matemática que exaltam diversos matemáticos brancos não-brasileiros, nenhum teve o cuidado de contar a história de Eliza Maria.
Álgebra é uma das disciplinas matemáticas mais temidas pelos estudantes. A pesquisa de Eliza foi sobre Álgebras associativas, que tratam sobre um corpo onde a operação de multiplicação binária não é assumida como associativa. Negra, mulher, nordestina – a história de Eliza desloca o imaginário da matemática brasileira, que sempre centraliza seus feitos em São Paulo e Rio de Janeiro, e isso é parte do problema do desenvolvimento matemático no Brasil, pois esses dois estados importaram muitos cientistas estrangeiros na matemática para seu desenvolvimento territorial, mas isso é para outro texto.