Notícia: Quilombos comemoram estreia do doc "Mimbó" no Canal Futura

Quilombos comemoram estreia do doc "Mimbó" no Canal Futura

Celebração da estreia aconteceu no Quilombo Sacopã, na capital do Rio de Janeiro, e no Quilombo do Mimbó, em Amarante, no Piauí

No dia 20 de novembro, o Canal Futura realizou dois eventos gratuitos e abertos ao público para celebrar o Dia da Consciência Negra. Os lugares escolhidos foram o Quilombo Sacopã, na capital do Rio de Janeiro, e o Quilombo Mimbó, em Amarante, no Piauí. A comunidade piauiense foi tema do documentário “Mimbó”, do cineasta Chico Rasta, que venceu, ano passado, o 12º Doc Futura. A exibição da película foi um dos momentos mais esperados da ação. A programação também contou com feijoada, jongo e samba. O gerente-adjunto do Futura, Acácio Jacinto, explica que a conexão com o território sempre fez parte do DNA da emissora:  

"Queremos trazer originalidade. O Futura está indo além da tela, promovendo experiências que coloquem a marca em outros lugares. Essa articulação com a ponta sempre foi muito presente no DNA do Futura ao longo da nossa trajetória. Entender a vivência, o impacto e o que os diferentes grupos da sociedade têm criado tem relação com o nosso fazer para podermos produzir um conteúdo mais próximo da realidade", explicou Acácio.

Um repórter entrevista outro homem. Ambos são negros.
Alexandre Henderson. repórter da TV Globo, entrevista Acácio Jacinto, gerente-adjunto do Canal Futura.

Essas atividades celebram o Dia da Consciência Negra, que conta ainda com uma programação especial de 24h no Canal Futura. O documentário, que estreou simultaneamente na TV e nas duas comunidades quilombolas, retrata a realidade do Quilombo Mimbó, que reúne cerca de 600 pessoas, no Piauí. A comunidade surgiu com quatro escravizados fugidos que viveram por 30 anos dentro de uma caverna, sem saber que, nesse período, a abolição havia sido aprovada. Em 53 minutos, o doc exalta a força da comunidade nas atividades de educação e trabalho e a importância da união em torno da reivindicação dos títulos de posse da terra.

Vale lembrar que o Dia da Consciência Negra marca a data de morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares, em 20 de novembro de 1695. O Quilombo dos Palmares foi um dos mais importantes redutos da resistência negra no período colonial, e perdurou por mais de 100 anos, na Serra da Barriga, em Alagoas. Resistência é a palavra de ordem para a população quilombola. O músico e líder do Quilombo Sacopã, Luiz Sacopã, 80 anos, lembra a importância de permanecer em uma das áreas mais cobiçadas pelo mercado imobiliário, na Fonte da Saudade, Zona Sul do Rio.

"Estar aqui é uma vitória! A comunidade afrodescendente não deve abaixar a cabeça e temos que enfrentar as questões que nos aflige. Precisam saber que nós também existimos e estamos lutando pelo nosso direito. Não podemos abaixar a cabeça! Somos resistência.", declarou Luiz que se emocionou com o retorno da feijoada depois de um longo período de paralisação das atividades: "Voltar com a feijoada depois de dois anos é muito gratificante e nos deixa muito feliz", finalizou o líder quilombola.

Homem está de pé com um microfone na mão, usando roupas coloridas, com predominância do vermelho.
Luiz Sacopã durante a exibição do doc "Mimbó", no Quilombo Sacopã.

A programação do Quilombo Sacopã contou com a apresentação da roda de jongo Afrolaje. Há dez anos o grupo realiza rodas culturais no último domingo de cada mês na Praça Agripino Grieco, no Méier, Zona Norte do Rio. A coordenadora do Afrolaje, Flávia Souza, lembra os valores que o jongo propõe:  

"O jongo, por ser em círculo, nos ensina a unidade, o olho no olho e o respeito a partir do momento que a gente pede licença para entrar na roda. Nós estamos buscando justiça e equidade. Jongo é resistência!", destacou Flávia.

Algumas pessoas estão de pé e um senhor está sentado, mais atrás.
Flávia Souza, coordenadora do Afrolaje, falando sobre o jongo.

Outros parceiros do evento foram a ActionAid Brasil, a Casa Poema, a livraria Timbukitu e o Ministério Público do Trabalho (MPT). O sarau, apresentado pela atriz e escritora Elisa Lucinda, teve a participação dos moradores do Quilombo Sacopã e integra o projeto Sankofa, uma iniciativa do MPT, em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), para dar visibilidade aos territórios quilombolas e fortalecer suas lutas.  

"A oficina de poesia durou uma semana, mas a intenção não é resumir a ação nessa atividade e sim seguir nessa articulação da rede das comunidades quilombolas do Rio de Janeiro. A poesia é uma estratégia que vem nesse contexto de fortalecimento da cidadania dessas comunidades tradicionais. É uma luta secular!", explicou a procuradora do MPT, Elisiane Santos.

As ações do MPT estão sendo desenvolvidas no Sacopã e em outros quilombos no Rio de Janeiro: Cafundá Astrogilda, Camorim e Ferreira Diniz. A procuradora destaca que estão trabalhando em diferentes ações estratégicas para fortalecer esses territórios e promover igualdade de oportunidades e trabalho digno. "O Ministério Público do Trabalho tem por dever também defender os direitos da sociedade, dos povos tradicionais e originários nesses territórios. Isso contribui para que essas comunidades possam acessar o sistema de justiça quando se faz necessário", concluiu Elisiane.

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