Artigo: “Prontidão tecnológica” é indicador importante para o desenvolvimento dos países

“Prontidão tecnológica” é indicador importante para o desenvolvimento dos países

Tecnologia – mas acesso também

Para participar da economia global, e se desenvolver socialmente, o quão pronto um país deve estar em termos de infraestrutura, acesso e educação para as tecnologias? A emergência do campo da educação midiática, por exemplo, só faz sentido se tivermos, de fato, oportunidades de usufruir das benesses e mediar os problemas ligados ao uso dessas tecnologias. Acesso, qualidade, equidade e prontidão de políticas públicas são palavras de ordem atualmente.

Depois da pandemia, a velocidade da chamada “transformação digital”, que inclui também políticas de educação, pode acentuar ainda mais as diferenças de desenvolvimento social entre as nações. Por isso, anualmente, o Instituto Portulans, ONG com sede na capital norte-americana de Washington, em conjunto com a Universidade de Oxford (Inglaterra), busca evidências científicas para orientar políticas públicas para essa realidade. Em outras palavras, em uma economia global digital e conectada, como as políticas públicas preparam as novas gerações de trabalhadores, desenvolvem a estrutura e acesso a essas tecnologias?

O Network Readiness Index (ou Relatório de Prontidão de Redes), produzido por essas organizações, é um documento extremamente importante no direcionamento de políticas públicas em educação, trabalho e tecnologia para governos de todo o mundo; o grande diferencial em relação a outros estudos semelhantes é que o bem estar social e a inclusão são seus pontos de referência. O relatório analisa indicadores sociais, econômicos e de infra-estrutura de cera de 120 países, e compara os índices com base em 58 indicadores próprios e 4 pilares básicos.

Na recém-lançada versão de 2022, a Europa ocupa algumas das principais posições do ranking com maior prontidão tecnológica (Suécia ficou em 3o lugar, Suíça em 4o e Holanda em 5o), atrás apenas dos Estados Unidos (1o) e surpreendentemente de Cingapura (2o). O ranking aborda uma estrutura multidimensional quando se refer ao termo “prontidão”: a tecnologia em si (acesso e estrutura), o impacto em aspectos de meio ambiente, em governança e em qualidade de vida dos cidadãos.

Cingapura (2o lugar no ranking geral) surpreendeu os pesquisadores este ano por destacar-se em estratégias políticas para que a tecnologia melhore a qualidade de vida da população. Na equação final, finou na frente da China, que lidera nos microdados relativos comércio eletrônico, redes 5 G e aplicações de inteligência artificial. O continente africano, por sua vez, representado por 20 países, ficou nas últimas posições do ranking, mas apresentou um desenvolvimento superior àquele esperado com relação aos dados do ano anterior.

O Brasil ocupa em 2022 a 44a posição geral no ranking. Mas esse é um número que precisa ser estudado com mais profundidade para melhor compreendermos a fonte de contradições que se tornou o país. No pilar do estudo que considera como os indivíduos têm acesso a tecnologia, em termos de inclusão, o país despenca para a 84a posição. A situação ainda é pior quando destacado o papel das políticas públicas focadas em tecnologias emergentes; a posição é a de 94. Os números relativos aos impactos da tecnologia na qualidade de vida dos brasileiros coloca o país no 87o local entre todas as nações.

Entretanto, numa análise fria sobre a infraestrutura do país e acesso a internet – sem condicioná-la a realidades locais – o Brasil sobe para 27o. A posição do Brasil melhora porque sob esse aspecto, o estudo não compara o recorte regional, étnico ou de gênero. Nesse sentido, outras pesquisas apontam que a equidade no acesso e formação para a tecnologia são o ponto fraco do país.

O Conselho Nacional de Educação (CNE) recém aprovou as normas do campo de pensamento computacional da BNCC (Base Nacional Comum Curricular); ao mesmo tempo a Câmara debate os princípios de políticas públicas para uma nova lei podem significar um salto importante na formação dos jovens brasileiros caso sejam implementadas com celeridade por estados e municípios. Se nossa lição de casa for feita com seriedade, em dois ou três anos o Brasil estará mais bem posicionado no Network Readiness Index.

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