Artigo: Evasão escolar: um problema que começa na alfabetização

Evasão escolar: um problema que começa na alfabetização

No cenário educacional brasileiro, a evasão escolar representa um desafio persistenteque afeta não somente o desenvolvimento individual dos estudantes, mas também o progresso social e econômico do país. No município do Rio de Janeiro, esse problema se mostra particularmente grave, especialmente ao considerarmos as taxas de reprovação e abandono nas diversas etapas da educação básica, com ênfase na alfabetização.

Apesar de terem sido observadas melhorias em relação a 2019, as estatísticas de 2022 ainda apontam para números alarmantes. Nos anos iniciais da educação básica, mais precisamente no processo crucial de alfabetização, a taxa de reprovação chegou a 6,9% no 3o ano (em 2019, era de 9,5%). Esses dados evidenciam um obstáculo significativo no caminho educacional das crianças, visto que a alfabetização constitui a base essencial para o aprendizado subsequente.

Contudo, o problema não se limita apenas aos anos iniciais. No 6o ano, uma fase intermediária do ensino fundamental, a taxa de reprovação foi de 5,4% (em comparação com 10,1% em 2019), indicando a persistência de dificuldades enfrentadas pelos alunos. A situação se torna ainda mais crítica nos primeiros anos do ensino médio, com uma taxa de abandono escolar de 22,1% (ante 30,5% em 2019).

Esses números transcendem a frieza das estatísticas, representando as vidas de estudantes profundamente impactadas, muitas vezes de forma irreversível. Para uma compreensão abrangente da evasão escolar, é fundamental analisar suas raízes, frequentemente associadas às dificuldades de alfabetização.

Estratégias e parcerias para combater a evasão escolar

A alfabetização é o ponto de partida para o processo educacional. Quando uma criança não adquire as habilidades básicas de leitura e escrita nos primeiros anos do ensino fundamental, ela se encontra em desvantagem significativa em relação aos colegas. Essa defasagem inicial pode resultar em um ciclo de repetência, onde o aluno não consegue acompanhar o currículo escolar, levando eventualmente ao abandono dos estudos.

Diversos fatores contribuem para as dificuldades de alfabetização e, por extensão, para a evasão escolar. Problemas socioeconômicos, infraestrutura escolar inadequada, formação insuficiente de professores e questões familiares podem afetar negativamente o processo de aprendizagem das crianças.

Para combater a evasão escolar de maneira eficaz, é crucial investir na qualidade da educação desde os primeiros anos. Isso implica não apenas assegurar o acesso à educação, mas também proporcionar um ambiente de aprendizagem estimulante, com professores capacitados e recursos adequados. Nesse contexto, a Parceiros da Educação Rio, em colaboração com a Secretaria Municipal de Educação (SME-RJ), promove formações e mentorias para gestores e professores das escolas públicas parceiras, com foco especial na análise e melhoria dos resultados dos alunos em avaliações diagnósticas e periódicas implementadas pela SME-RJ.

Ademais, é essencial implementar políticas públicas que abordem as causas subjacentes da evasão escolar, como a desigualdade social e a falta de suporte familiar. Programas de intervenção precoce, que identifiquem e auxiliem alunos em risco desde os estágios iniciais, podem ser decisivos na redução das taxas de evasão. Nesse sentido, o papel dos Conselhos Regionais de Assistência Social (CRAS) e do Conselho Tutelar, em conjunto com as escolas, é fundamental.

A escola identifica alunos faltosos e tenta entrar em contato com as famílias, dentro do programa de busca ativa da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, que inclui uma plataforma para inserção e acompanhamento desses dados. Contudo, em alguns casos, a família pode não ser localizada ou, mesmo que seja, pode estar enfrentando problemas que ultrapassam a competência da escola. Nesses momentos, o envolvimento da Assistência Social e do Conselho Tutelar se torna crucial. O CRAS pode enviar assistentes sociais à residência do aluno e apoiar a família, facilitando o retorno do aluno à escola. Da mesma forma, o Conselho Tutelar tem autoridade para convocar os responsáveis e adotar medidas para garantir o retorno do aluno à escola, incluindo a suspensão de benefícios como o Bolsa Família, se necessário.

Em última análise, a evasão escolar não é apenas um problema educacional, mas também um reflexo das desigualdades sociais e das falhas estruturais presentes em nossa sociedade. Ao enfrentarmos esses desafios diretamente e priorizarmos a educação como ferramenta de transformação, podemos construir um futuro mais justo e próspero para todos os cidadãos, começando pela alfabetização.