Artigo: Os desafios e as oportunidades do uso da Inteligência Artificial na educação profissional

Os desafios e as oportunidades do uso da Inteligência Artificial na educação profissional

Como utilizar a IA de maneira responsável e inovadora na formação de pessoas para o mundo do trabalho?

Como preparar os profissionais para as demandas tecnológicas emergentes e contribuir para o desenvolvimento sustentável do setor produtivo?

Diante das visões antagônicas sobre a tecnologia, o SENAI-SP desenvolve estudos e coloca em prática uma série de ações para se aprofundar nas possibilidades dessa inovação e busca estar na vanguarda de sua aplicação, tanto com o uso em sala de aula como em estratégias de negócios.

Um dos grandes desafios que a instituição tem encontrado ao aprofundar-se no tema Inteligência Artificial, principalmente a generativa, é a ansiedade que a sociedade tem demonstrado acerca da tecnologia. "Na nossa visão, o anseio está relacionado à grande velocidade com que ela se desenvolveu e se espalhou. O CHAT GPT, por exemplo, surgiu em novembro de 2022 e demorou apenas cinco dias para atingir 1 milhão de usuários", explica Marcello de Souza Junior, gerente de Inteligência de Mercado do SENAI-SP, e complementa: "um recorde batido anteriormente pelo Instagram, que demorou dois meses e meio para atingir o mesmo patamar de pessoas conectadas à aplicação".

Para o executivo, essa rápida propagação da tecnologia na vida das pessoas, assim como a velocidade que ela apresenta em termos de processamento de dados e poder de resposta, tem assustado as pessoas. “Também tem dificultado a existência de um debate pautado em evidências, relacionado aos caminhos que ela pode tomar, potencialidades do uso responsável e como podemos traçar uma rota de implantação que seja viável e contribua para o desenvolvimento socioeconômico", defende.

Para além das visões antagônicas

O SENAI-SP enxerga a IA generativa como uma nova rota tecnológica, que tem o potencial de ajudar a sociedade a resolver alguns grandes desafios que teremos no futuro, como o da produtividade.  "Com o envelhecimento populacional, temos países desenvolvidos que já vivenciam a redução da população em idade economicamente ativa. Como continuaremos a ser cada vez mais produtivos para assegurar o desenvolvimento socioeconômico como um todo?", questiona Marcello.

Observa-se, ainda, a partir da experiência de diversos países desenvolvidos, que as tecnologias existentes e utilizadas até então não têm sido suficientes para assegurar o incremento contínuo da produtividade. “Uma das formas que enxergamos de continuar com o crescimento desta produtividade é a adoção da IA para expandir as atuais fronteiras tecnológicas para um novo patamar. E a Inteligência Artificial usada de maneira adequada, com ética e responsabilidade, pode ajudar a conquistar esse ganho", defende.

Impacto nas profissões

Quando uma tecnologia se insere no mercado de trabalho, diversas formas de impacto podem ser observadas, a depender de sua capacidade em realizar o mesmo conjunto de funções, na mesma acurácia que o trabalhador faria.

"O indivíduo oferta, além de seu tempo, uma série de conhecimentos, habilidades e atitudes que o qualificam a exercer determinadas funções. Quando a tecnologia impacta nas atribuições essenciais de um perfil profissional, de fato, a profissão tem uma alta exposição à IA, com grande risco de obsolescência, reduzindo a sua demanda em um futuro próximo", explica Guilherme Dias, supervisor de Tecnologias Educacionais do SENAI-SP.

Já em uma situação em que essa tecnologia atinge apenas parte da rotina laboral daquela ocupação, o que se observa é um redesenho do perfil. Neste caso, o profissional vai dedicar mais tempo desenvolvendo as competências que a tecnologia não têm, e há um ganho de produtividade.

O impacto passa também por uma decisão social, isto é, por mais que a tecnologia avance e tenha capacidade de replicar determinada função, a sociedade apresenta resistências para que essa substituição seja realizada. "Acredito que será bastante complexo para nossa sociedade, num curto espaço de tempo, adaptar-se à ideia de que tecnologias possam assumir funções tradicionalmente desempenhadas por profissionais em determinadas áreas. As relações interpessoais, juntamente com nossa memória coletiva, tendem a criar resistências significativas a mudanças tão profundas.", reflete Dias.

Existem ainda ocupações que têm alta exposição a IA, mas vão conseguir utilizar a tecnologia em benefício do seu trabalho, tornando-se mais produtivas, como aquelas que necessitam de senso crítico e tomada de decisões.

Para Marcello, o grande desafio é pensar em maneiras de monitorar constantemente o impacto dessas tecnologias em cada uma das profissões, já que o mercado de trabalho é muito dinâmico, as funções e competências que são demandadas dos trabalhadores muda ao longo do tempo e a tecnologia em si tem avanços em suas funções e capacidades. "Mais do que ter fotografias dessa situação, uma boa prática é a criação de mecanismos de monitoramento contínuos para a tomada de decisão em relação, principalmente, a profissões que tenham risco de deslocamento de força de trabalho. Agindo com mais assertividade, encurtando o período de desemprego dessas pessoas, capacitando-as através de formação inicial e continuada para novas ocupações. Isso é papel do poder público e das instituições de formação profissional, visando minimizar os impactos sociais que podem acontecer com a adoção dessas tecnologias".

Formando pessoas hoje para a indústria do futuro

Um dos grandes desafios da educação profissional para a formação de pessoas para atuar na indústria é lidar com um cenário de encurtamento dos ciclos das tecnologias. A todo momento, identifica-se o surgimento de tecnologias emergentes que, quando adotadas nos processos produtivos, têm o potencial de alterar a composição da demanda das empresas por perfis profissionais. Isto é, com a adoção da tecnologia, exige-se um novo conjunto de competências, cabendo ao SENAI estar preparado para formar esse profissional para essa indústria que surgirá, com novos processos produtivos.

Para criar essa habilidade de percepção mais rápida, o SENAI-SP tem adotado a estratégia de buscar uma gestão com o conceito Data Driven, isto é, voltada para dados. "Fazemos a análise de grande volume de dados próprios adquiridos ao longo de 80 anos, mas também externos, relacionados a mercado de trabalho, tecnologias, vagas de emprego, estruturas ocupacionais e perfis profissionais, que são debatidos globalmente. Assim, o SENAI busca perceber e antecipar as necessidades de atualizações de perfis profissionais que poderão ser demandados pela indústria em um futuro próximo", diz Marcello.

Hoje, no SENAI-SP, há uma série de cursos que preparam o aluno para discutir e absorver conceitos básicos e avançados de Inteligência Artificial. Já a intensidade que esse conhecimento é trabalhado, depende do nível de interação que as competências que estão sendo ensinadas têm com a IA na rotina laboral.

Como a educação profissional é a junção de teoria com prática tecnológica, é fundamental também a atualização constante do quadro de docentes. "Assim trabalhamos com o programa PROEDUCADOR que, desde 2012, promove a atualização tecnológica dos docentes da rede", conta Guilherme.

Na temática Inteligência artificial, desenvolveu-se, nos últimos anos, trilhas de formação para essa capacitação de docentes. "Não apenas para os professores da área tecnológica, que exploram aplicações de inteligência artificial generativa para potencializar a produtividade em seus projetos, mas também para os docentes de todas as disciplinas, que são orientados em como utilizar a IA dentro da metodologia SENAI de ensino profissional, com informações e diretrizes para o uso responsável, que considera não apenas os aspectos técnicos, mas também o contexto cultural e humano envolvido", complementa.

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