Artigo: O futuro do trabalho para as juventudes que mudam o mundo

O futuro do trabalho para as juventudes que mudam o mundo

O futuro do trabalho e as juventudes. Dentre tantas questões impulsionadas pela pandemia, uma, em específico, foi motivo de preocupações que, em definitivo, não se findaram com a atenuação da transmissão do vírus. No quesito educação tivemos um cenário de intensas dificuldades para que crianças e jovens acompanhassem suas aulas de casa, dado o acesso pouco equitativo à internet e a equipamentos eletrônicos. De acordo com o Todos Pela Educação, de 2019 para 2021 houve aumento de 171% na taxa de evasão escolar.

É comum ver uma associação do período instável da pandemia na educação com as questões amplas que atravessaram também a economia. Quantes jovens deixaram e continuam deixando de estudar pela necessidade de trabalhar e contribuir com a renda familiar?

Esse é um cenário que se repete e acentua, ano após ano, as desigualdades sobre as quais o Brasil se erige

No tocante ao trabalho, experiências de inserção formal no mercado em caráter de aprendizado, com vínculo empregatício seguro a partir dos 14 anos não configuram um problema, desde que a frequência e rendimento escolar não tenham queda

Mas para, além disso, se faz importante refletir também sobre questões que vão mais adiante no tema. Duas linhas de soluções relevantes e não-excludentes se colocam aqui: (1) É inegável a necessidade de planos em longo prazo que estruturem uma política de assistência social efetiva no Brasil, combatendo problemas transversais, tal qual a evasão escolar que se atrela ao trabalho infantil. (2) Ao mesmo tempo, há de se pensar sobre o futuro do trabalho e especialmente qual trabalho aguarda as juventudes, como também as próximas gerações que virão.

Na jornada da transformação social e empreendedorismo, conheci muites jovens com um potencial fantástico de mudarem o mundo. Muites já mudando esse mundo no presente, com projetos em variadas áreas que dão resposta de modo global a dilemas da vida contemporânea no planeta. Conhecer pessoas jovens engajadas com esses processos de transformação de suas realidades em curso é um dos meus maiores combustíveis de vida e sempre que ando para baixo, me lembro positivamente que há muito a ser feito e mãos sedentas para fazê-lo.

Mas infelizmente não são poucos os casos de amigues que tendo encontrado uma missão de vida propositiva e transformadora, têm de dar pausas no meio do caminho por não verem perspectivas de se sustentarem financeiramente por meio de seus projetos e ideias.

É nesse ponto que a segunda solução entra em pauta: que futuro do trabalho precisamos sonhar, de modo que jovens tenham uma jornada de formação e atuação potencializadora do futuro coletivo na Terra?

De certo não é via aplicativos de entregas, trabalhando exaustivas horas por dia que esse futuro se construirá. Mas no espaço da utopia, que de quando em quando convido a todes nessa coluna para habitarem, pode ser possível desenhar um novo capítulo na história do trabalho em que jovens tenham um papel fundamental.

Dadas as devidas especificidades históricas, por que não pensar no lugar da chamada 4ª Revolução Industrial a “revolução dos vínculos humanos com o trabalho”? Ou seu propósito? Ao invés de métrica de sucesso com base em lucro, uma posição firme de trabalhar pela mudança. E sim, se uma criança dizer aos 10 anos que deseja salvar a Amazônia e ume jovem aos 16 que gostaria de ver o fim da fome no mundo, criar caminhos concretos para que essas dores na relação com a sociedade se tornem missões sustentáveis de vida.

Uma possibilidade de rearranjo essencial da ordem do trabalho se dá na redistribuição de renda, compreensão das necessidades reais de produção e reprodução, e também reestruturação dos meios de produção, utilizando a tecnologia aliada ao nosso favor.

E então, num pacto coletivo por trabalho significativo para todes, talvez tenhamos no futuro dos vestibulares as opções de carreiras em que de modo menos cingido e específico não escolhamos uma formação em Engenharia ou Direito, mas, sim, em “Engenharia para Preservação dos Rios Brasileiros”, ou “Direito para o Fim da Fome no Mundo”. Imagina, só?

Um futuro em que trabalhemos com propósito de mudar o mundo, e em que, desde jovens, encontremos apoio para isso, em todas as esferas da sociedade.