Crianças negras são as maiores vítimas de trabalho infantil, aponta UNICEF
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O maior número de crianças vítimas de trabalho infantil está no continente africano, de acordo com a estimativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância, a UNICEF, divulgado em 12 de junho de 2023. A estimativa é que mais de 72 milhões de crianças sejam vítimas desta prática na África.
“Hoje, 160 milhões de crianças ainda estão envolvidas em trabalho infantil. Isso é quase uma em cada dez crianças em todo o mundo”, aponta o documento.
“As regiões da África e da Ásia e do Pacífico juntas respondem por quase nove em cada dez crianças nessas situações em todo o mundo. (…) Em termos de incidência, 5 por cento das crianças estão em situação de trabalho nesta faixa etária nas Américas, 4 por cento na Europa e Ásia Central e 3 por cento nos Estados Árabes”.
Apesar da porcentagem de crianças nesta situação ser maior em países pobres, os números são superiores em países mais desenvolvidos, de rendimentos médios.
“As estatísticas sobre o número absoluto de crianças em situação de trabalho infantil em cada faixa de renda nacional indicam que 84 milhões de crianças em situação de trabalho infantil, o que representa 56 por cento de todas as crianças, vivem de facto em países de renda média e outros dois milhões vivem em países de alta renda”.
Gerações de trabalhadores infantis
"Comecei a trabalhar quando eu tinha uns doze anos. Era empregada doméstica na casa de uma família na Zona Norte do Rio. Arrumava a casa, lavava, passava e também cuidava de crianças menores. Hoje eu entendo que era trabalho infantil, mas na época eu só achava que precisava trabalhar", diz Fátima Pereira, empregada doméstica de 59 anos.
O relato de Fátima é de um caso que aconteceu nos anos 1970, mas que até hoje ainda é muito presente no Brasil e no mundo: o trabalho infantil. Atualmente há pelo menos 168 milhões de crianças vítimas de trabalho infantil, de acordo com a estimativa. Já a Organização Internacional do Trabalho denuncia que mais de 20 em cada 100 crianças entram no mercado de trabalho por volta dos 15 anos.
No relatório da UNICEF é destacado que “experiência conjunta no combate ao trabalho infantil ao longo das últimas três décadas demonstrou que esta exploração pode ser eliminado, se as causas profundas forem abordadas”.
A eliminação do trabalho infantil ainda não é a realidade para a família de Fátima que já está na terceira geração de empregadas domésticas que começaram trabalhar antes dos 16 anos: "Tenho cinco filhos, todos começaram a trabalhar cedo. Os meninos começaram na van como cobrador, no mercado empacotando e as meninas começaram na faxina na casa de um, de outro, para me ajudar em casa", conta.
“Mais do que nunca, é urgente que todos nós contribuamos para trazer soluções para os problemas diários das pessoas, e é – possivelmente – o mais visível desses problemas”, denuncia a organização, acrescentando que este é o momento “para demonstrar que a mudança pode ser alcançada quando a vontade e a determinação se unem e fornecem um impulso para que os esforços sejam acelerados numa situação de grande urgência”.