Notícia: O papel da comunicação no enfrentamento à pobreza: Vale, Futura e Fundação Roberto Marinho promovem debates

O papel da comunicação no enfrentamento à pobreza: Vale, Futura e Fundação Roberto Marinho promovem debates

Aconteceu nesta quarta-feira, 29/11, no auditório do Museu de Arte do Rio (MAR), o encontro “O Papel da Comunicação no Enfrentamento à Pobreza”, iniciativa da Vale, em parceria com Futura e Fundação Roberto Marinho.

Com apresentação da escritora e filósofa Hananza, o que se viu foram discussões qualificadas sobre a extrema pobreza no país, sob a ótica do fazer da comunicação. O evento teve início com a fala de Marcelo Klein, diretor de Territórios na Vale.

Klein falou sobre o contexto da criação da área da empresa em que trabalha, especialmente dedicada aos territórios. E a intenção desse movimento pela Vale era clara: prestar mais atenção às questões relacionadas ao enfrentamento à pobreza das áreas em que atua: "Estamos falando de termos sempre em mente as comunidades centenárias que estavam, muito antes, nas localidades em que chegamos para realizar o nosso trabalho. É preciso compreender e respeitar o território".

Um homem branco, de cabeço preto, fala ao microfone.
Marcelo Klein, durante fala de abertura do encontro "O papel da comunicação no enfrentamento à pobreza".

Em seguida, o secretário-geral da FRM, João Alegria, foi chamado para sua fala introdutória, em que enalteceu a parceria importante entre Fundação, Futura e Vale: "A relação das pessoas que trabalham nas três empresas é o que torna possível isso tudo que fazemos juntos". E reforçou o papel do Canal Futura: "Há 26 anos, o Futura está construindo um caminho de levar educação praticada no chão do país para as telas".

Dando andamento ao evento “O Papel da Comunicação no Enfrentamento à Pobreza”, Letícia Verona, consultora de monitoramento e dados, falou sobre métricas relacionadas à pobreza nos territórios: "O projeto que mais toca meu coração é sobre letramento em dados para jovens". Letícia valorizou a importância de se fazer uma leitura crítica e uma avaliação cuidadosa sobre índices e cenários apresentados por pesquisas e números acerca da pobreza.

15 milhões de famílias não têm acesso ao gás de cozinha (IBGE 2019)

Um homem branco, com cabelo branco e óculos, fala ao microfone diante de um púlpito.
João Alegria, durante contextualização da parceria entre Vale, Futura e Fundação Roberto Marinho.

Nesse sentido, explicou: "A unificação, por meio de números, permite que tenhamos o 'Índice de Pobreza Multidimencional'. tentando simplificar o que é, trata-se de analisar e comparar números e dados de cenários de pobreza distintos reunindo-os, colocando-os em uma régua em comum, em um único universo (complexo) de análise. É o que torna as pesquisas uma ferramenta essencial para a sensibilização dos tomadores de decisão e criadores das políticas públicas de combate à pobreza".

Dos 44,6% de brasileiros sem esgoto sanitário em casa, 86% são da região norte (Trata Brasil, 2017)

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Você tem que saber quem gerou o dado que encontrou ali; a intenção por trás daquela informação apresentada.


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Após a conclusão da fala de Letícia, Hananza destacou a importância de haver debates sobre dados relacionados à pobreza. E citou Emicida:

"Enquanto a terra não for livre, eu também não sou"

Em seguida, introduziu o mediador do painel de conversa que começaria em seguida, o jornalista Caco Barcellos, que convidou os participantes da mesa: o diretor de jornalismo da Agência Mural, Vagner de Alencar; a jornalista e CEO do Notícia Preta, Thaís Bernardes; a jornalista do Maré de Notícias, Jéssica Pires; e a jornalista Luciene Kaxinawá, do Canal Futura.

Vagner começou sua fala mencionando sua origem, na Bahia, mas focando no local onde passou a viver: São Paulo.

"Na Agência Mural, já formamos mais de quatrocentos correspondentes para cobertura jornalística na Grande São Paulo. Há muitos jornalistas no país que só abordam fatos que ocorreram longe da periferia. É importante que os territórios marginalizados sejam contemplados - e com uma linguagem atual, tecnológica, conectada", disse o diretor de jornalismo da Agência Mural.

Cinco pessoas estão de pé - dois homens e três mulheres.
Os participantes da primeira mesa (esq. para dir.): Vagner de Alencar, Thaís Bernardes, Caco Barcellos, Jéssica Pires e Luciene Kaxinawá.

Thaís Bernardes comentou sobre sua formação em universidades francesas e destacou a dificuldade para, já de volta ao Brasil, conseguir entrar no mundo do trabalho jornalístico em seu próprio país - mesmo tendo uma formação qualificada.

"Depois das experiências que tive em diversos meios jornalísticos, inclusive tendo passado pelo Canal Futura, hoje tenho mais de uma dezena de funcionários no Notícia Preta em alguns estados do nosso país", informou Thaís, que ainda falou sobre a escola de educação antirracista que criou, que já conta com mais de 3 mil alunos.

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Todo mundo precisa de formação antirracista na escola.


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Jéssica Pires, jornalista do Maré de Notícias, no Rio de Janeiro, deu início à sua participação ressaltando a importância de como contar histórias em um lugar sensível: "Como fazer com que as pessoas que moram na comunidade da Maré se sintam representadas no que escrevemos? Por exemplo: hoje mesmo, meu atraso para chegar ao evento aqui se deu por uma operação policial que estava acontecendo na Maré. Eu, que moro lá, não consegui sair na hora que planejei", compartilhou Jéssica.

Em seguida, a jornalista falou mais sobre a forma de divulgação do trabalho do Maré de Notícias: "A gente distribui as edições impressas mensalmente pelas 16 favelas que compõem o conjunto da Maré. É fundamental que os dados que temos e trabalhamos cheguem aos mais de 140 mil moradores de lá (Censo 2013)".

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O jornal impresso ainda é uma ferramenta essencial em um território como o da Maré.


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Luciene Kaxinawá, jornalista indígena do Canal Futura, destacou a carência de atendimento de saúde para os povos indígenas, especialmente no contexto urbano: "Falar de pobreza sem falar de território não é possível, no meu entendimento. Sem território não há saúde, não há respeito, não há 'nós'".

Caco Barcellos lançou, então, uma provocação para os participantes: "Como é lidar com as autoridades ditas oficiais (a polícia) para exercerem a profissão de vocês? E com as autoridades extraoficiais, como o tráfico?".

Para Vagner, o caminho da Agência Mural se dá pela visibilização de outras histórias, não pelo viés negativo sobre as facções: "Impossível não falar de violência ao falar de Paraisópolis, por exemplo. Mas vamos sempre tentar focar nas ações que acontecem ali dentro no sentido positivo, que geram resultados e nos permitem avançar enquanto comunidade", afirmou Vagner.

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Jornalismo local e periférico é trabalhar tendo de mostrar profissionalismo e responsabilidade o tempo todo.


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Caco lembrou os tantos jovens que foram executados em 2019, no Rio de Janeiro, e propôs uma reflexão a todas e todos: "Como ficam as famílias desses jovens mortos?".

Thaís Bernardes destacou que o Notícia Preta (NP), jornal digital antirracista que toca, não é "mídia de favela": "Trata-se de um veículo dedicado a conteúdos jornalísticos antirracistas. Somos um jornal factual generalista, focado em contribuir na formação de uma sociedade antirracista por meio de pautas de política, de economia", disse a CEO do NP.

Caco, no sentido de explorar uma dúvida bastante "prática" relacionada à prática de fazer comunicação no nosso país, perguntou a Thaís sobre como é para manter o Notícia Preta. Thaís foi direta: "Temos necessidade de financiamento e apoio jurídico para mantermos os veículos de mídia e jornalísticos que focam nos contextos que abordamos".

Jéssica também detalhou a forma de trabalhar no Maré de Notícias, mas adicionando o componente social local: "Ao contrário do que costumamos ver e ouvir de outras pessoas, os moradores da favela não naturalizam o contexto de drogas e armas. Isso é uma questão, claro. Mas o que as pessoas que não moram lá precisam entender é que uma operação policial é uma ação muito mais violenta com a população da comunidade, porque paraliza e amedronta. E é por isso que a informação precisa chegar às pessoas da Maré, também pelo viés positivo", diz Jéssica.

Foto tirada do fundo do palco para o auditório. No palco, uma mulher fala ao microfone. Ao fundo, o público a assiste.
O auditório do MAR estava lotado desde a abertura do evento. No destaque, Letícia Verona falava sobre dados para o público.

Naquele contexto, um trabalho em parcerias consegue dar dimensões maiores e mais impacto à comunicação que se queira fazer. Jéssica explicou: "A ONG Redes da Maré, por exemplo, acaba sendo um canal de informação para todas e todos que moram na Maré. Algumas conexões se dão espontaneamente, mas cada espaço das 16 favelas da Maré tem sua própria dinâmica de troca de informações e compartilhamento de comunicados".

"As operações acontecem, mortes acontecem, mas sequer há perícia para que possa acontecer uma investigação séria sobre aquela(s) vida(s) que se foi (foram). E o jornal é uma ferramenta pra lutarmos também por isso."

Provocada pela pergunta de Caco sobre o trabalho de jornalistas indígenas, Luciene Kaxinawá abordou o trabalho da rede de comunicadores indígenas: "Às vezes, nossa ação profissional é dificultado por alguns comunicadores não-indígenas. E a gente precisa ocupar esses espaços", que destacou como a programação jornalística do Canal Futura já costuma abordar a temática do combate à pobreza: "O Conexão, por exemplo, tem sempre conteúdo relacionado a direitos, território, povos marginalizados".

Assista ao Conexão, do Canal Futura, com apresentação de Luciene Kaxinawá e Rafael Costa.

Para o segundo e último painel de conversas do evento, Leonne Gabriel, jornalista e apresentador do Canal Futura, apresentou o tema - “Caminhos para a construção de uma comunicação legítima e diversa” - e introduziu os participantes: o jovem ator, roteirista e aprendiz, Gabriel Vieira Santos; a integrante da diretoria do coletivo Serra Pelada Produções, Raquel Moraes; a atriz, roteirista e criadora de conteúdo, Luana Xavier; o criador da Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri, Alemberg Quindins; e a chefe de cozinha e fundadora da Favela Orgânica, Regina Tchelly.

Após uma reflexão inicial, em que contou um pouco sobre sua formação profissional e pessoal em sua trilha no jornalismo, Leonne perguntou para Regina sobre as questões de insegurança alimentar que ela explora por meio de seu trabalho.

Após uma atividade integradora inicial envolvendo todo o auditório, Regina Tchelly falou um pouco sobre si e sua trajetória: "Há 12 anos, participei de um projeto do governo na comunidade em que moro. É muito bom quando a gente começa a acreditar na gente, mas também quando entendemos nosso papel como seres humanos, nossa missão", disse Regina.

"Eu desenvolvi o Favela Orgânica trabalhando com o ciclo da vida e do alimento. Usamos alimentos não-convencionais para mostrar que temos comida em diversos espaços considerados 'sem alimento'. Precisamos refletir sobre a história dos nossos alimentos, sobre a origem do que colocamos em nossos pratos"

Seis pessoas estão de pé, sorrindo - três mulheres e três homens.
Os participantes da segunda mesa do dia (esq. para dir.): Leonne Gabriel, Gabriel Vieira Santos, Raquel Moraes, Luana Xavier, Regina Tchelly e Alemberg Quindins.

Leonne destacou o jeito irreverente e leve com que Regina traz questões tão sérias e potencialmente excludentes também: a insegurança alimentar e a fome. Em seguida, introduziiu Luana Xavier, perguntando sobre sua trajetória profissional.

Luana foi clara: "Sou neta de Chica Xavier (renomada atriz brasileira, falecida em 2020), e assumi uma cadeira na Academia Brasileira de Cultura há 10 dias. Conquistei esse espaço juntamente com minha vó, aquela atriz e pessoa incrível que foi. Além de atuar, me formei ainda em Serviço Social, na Universidade Federal do Rio de Janeiro", disse a atriz.

Como criadora de conteúdo para a web, Luana refletiu sobre como seria comunicar sobre suas coisas de forma a criar interesse nas pessoas: "Queria falar sobre negritude, sobre religiões de matriz africana... Na minha casa essas temáticas sempre estiveram presentes. Entendi que era importante eu mesma ser a pessoa que protagonizaria os posts e vídeos que eu produziria", contextualizou a atriz.

Aproveitando o momento, após a fala de Luana, Leonne fez uma breve contextualização para o público sobre a Lei 10.639, que faz 20 anos em 2023, e a Lei 11.645.

Você conhece essas leis? Para acessá-las e lê-las, clique nos links abaixo:

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Minha missão é mostrar que as pessoas pretas têm muito conhecimento para compartilhar, mas preciso também contribuir pra democratizar o acesso a esse conhecimento.


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Provocado a refletir sobre o imaginário do nordeste e do norte brasileiros, Alemberg Quindins, criador da Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri, trouxe algumas referências geográficas e geológicas nordestinas como ponto de partida: "Nas Chapadas, encontramos vegetação em comum conforme vamos passando pelo território, mas também encontramos cultura. A maior pobreza da comunicação é a falta de conhecimento do território", afirmou Alemberg.

"Quanto mais nos aprofundamos no território brasileiro, mais fazemos contato com a origem da nossa história. Nós nascemos do centro pra fora, não de fora pra cá. Por uma conveniência geopolítica, o Brasil foi dividido de uma maneira errada. Daí a iomportância da formação de comunicadores desde a infância, com base em uma visão mais profunda do que é o nosso país", refletiu.

"Primeiramente, precisamos dialogar com o território para, em seguida, pensar a comunicação. Que tipo de comunicação queremos fazer?"

Ao lembrar da Chacina de Vigário Geral, em 1993, Leonne relembrou entrevistas que fez com pessoas próximas e familiares das vítimas, e como aquilo marcou, profunda e permanentemente, aquelas pessoas. Em seguida, introduziu Raquel Moraes, integrante da diretoria do coletivo Serra Pelada Produções.

Para Raquel, a produtora quer transformar a realidade por meio a união e da coletividade: "A população da região vive, em sua maioria, pelos planos de assistência do governo. E a produtora quer dar espaço para as vozes dessas pessoas, desses jovens".

Gabriel Vieira Santos, ator, roteirista e aprendiz, chega para a conversa mencionando que todos os jovens presentes pela Serra Pelada Produções fazem parte de comunidades que ficam em plena floresta amazônica: "Usamos da espontaneidade da juventude pra criar conteúdo e comunicar.

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O que a gente faz pode mudar a nossa realidade.


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Ao final do encontro "O papel da comunicação no enfrentamento à pobreza", a mensagem que fica é clara: a comunicação precisa partir do território, sempre conectada a ele em origem e finalidade, para que, quando transmitida, faça sentido, afete positivamente as pessoas e, enfim, cumpra seu papel - que não se encerra ali.

Assista à cobertura do evento realizada pelo Jornalismo do Canal Futura no vídeo abaixo! 

Próximos passos

O evento inaugurou a cooperação técnica firmada por Vale, Fundação Roberto Marinho e Canal Futura, com o objetivo de amplificar o alcance das informações e conteúdos produzidos pelos projetos fomentados, sobre o enfrentamento à pobreza extrema.

O plano de trabalho irá contemplar a produção audiovisual documental independente e o incentivo à produção de conteúdo jornalístico com foco no alcance e nos resultados do Programa de combate à pobreza extrema, a ser implementado em parceria com governos, instituições da sociedade civil e outras corporações, na construção conjunta de iniciativas.

Sobre a Vale

A Vale é uma mineradora global que existe para melhorar a vida e transformar o futuro juntos. Uma das maiores produtoras mundiais de minério de ferro e níquel e importante produtora de cobre, a Vale tem sede no Brasil e atuação ao redor do mundo. Suas operações compreendem sistemas logísticos integrados, incluindo aproximadamente 2.000 quilômetros de ferrovias, terminais marítimos e dez portos distribuídos pelo mundo. A Vale tem a ambição de ser reconhecida pela sociedade como referência em segurança, a melhor operadora e a mais confiável, uma organização orientada aos talentos, líder em mineração sustentável, e referência em criação e compartilhamento de valor”.

Sobre a Fundação Roberto Marinho 

A Fundação Roberto Marinho inova, há mais de 40 anos, em soluções de educação para não deixar ninguém para trás.  Promove, em todas as suas iniciativas, uma cultura de educação de forma encantadora, inclusiva e, sobretudo, emancipatória, em permanente diálogo com a sociedade. Desenvolve projetos voltados para a escolaridade básica e para a solução de problemas educacionais que impactam nas avaliações nacionais, como distorção idade-série, evasão escolar e defasagem na aprendizagem.

A Fundação realiza, de forma sistemática, pesquisas que revelam os cenários das juventudes brasileiras. A partir desses dados, políticas públicas podem ser criadas nos mais diversos setores, em especial, na educação. Incentivar a inclusão produtiva de jovens no mundo do trabalho também está entre as suas prioridades, assim como a valorização da diversidade e da equidade. Com o Canal Futura fomenta, em todo o país, uma agenda de comunicação e de mobilização social, com ações e produções audiovisuais que chegam ao chão da escola, a educadores, aos jovens e suas famílias, que se apropriam e utilizam seus conteúdos educacionais.  Mais informações no Portal da Fundação Roberto Marinho.