Notícia: Consciência Negra no Brasil e na Região 

Consciência Negra no Brasil e na Região 

Educação antirracista e o Museu de Arte do Rio

São muitos os motivos para se pensar e se conscientizar sobre a presença e a importância da população afrodescendente no Brasil e além-mar. A data 20 de novembro foi escolhida pois coincide com a da morte de um dos heróis brasileiros, Zumbi dos Palmares, em 1695. Zumbi foi líder de um lugar que reunia e amotinava milhares de afrodescendentes em Alagoas - o Quilombo dos Palmares. Ali, o grupo negociava e combatia o regime escravocrata que tratava a população como selvagem, como escória da sociedade. 

O povo negro sabe que datas comemorativas são importantes, mas que não solucionam o compromisso, ainda aceso, em combatermos o racismo estrutural, fato que hoje permanece em números como os de homicídio dos jovens negros, somando 80% das mortes violentas no Brasil, e os da maioria da população carcerária, dois em cada três prisioneiros. Homenagear Zumbi é trabalhar para o antirracismo, para a horizontalidade de cargos de liderança nas empresas, para a equidade entre homens e mulheres negros na construção do imaginário das artes, da comunicação, dos negócios.

A história do Museu de Arte do Rio (MAR) inicia em 2013, na Praça Mauá, Rio de Janeiro, onde antes havia outros equipamentos culturais. No mesmo local, em época distante, nasciam as comunidades, os quilombos da Saúde, Morro da Providência, Morro da Conceição, Morro do Pinto e da Gamboa, onde também estava o Cais do Valongo, considerado um dos maiores portos de comércio de escravizados no século 19 – estima-se que 1 milhão foram comercializados.

Diante desse legado, estava firmado o compromisso do MAR: preservar e valorizar a história desse território. É nesta valorização que o Museu se relaciona por meio de exposições e de ações educativas e sociais – a Escola do Olhar – no mais próximo ao que discutimos sobre consciência negra. 

Sua concepção artística, curatorial e de pesquisa também se firmam preservando a memória desse espaço, onde o povo negro carregou e ainda carrega uma absoluta significância na construção da história do Brasil. Em suas primeiras exposições, apresentou Do Valongo à Favela: imaginário e Periferia, sobre o processo de formação das comunidades vizinhas, da etnografia do Valongo e formações das famílias, povos e personagens procedentes da África. A mais recente e a maior de 2022, Um Defeito de Cor, inspirada no romance homônimo, da escritora Ana Maria Gonçalves, trata de uma releitura do tema do racismo, da escravidão e da reinvenção da trajetória da população afrodescendente, com 400 obras de 100 artistas do Rio de Janeiro, Bahia, Maranhão e da África. 

Ampliando a atuação, o Museu saiu do seu espaço físico para discutir uma ilustre escritora brasileira negra: Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros, em cartaz no Parque Madureira, parceria com o Instituto Moreira Salles

Essas reflexões sobre o racismo estrutural, a pobreza, a fome e a superação nos colocam diante do desejo de reparação histórica, de inserção das trajetórias de artistas e autores afrodescendentes como protagonistas da programação do MAR.

Ao assumir a gestão do Museu em dezembro de 2020, em correalização com o Instituto Odeon, a Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI) reafirmou o compromisso de zelar e difundir a cultura afro-brasileira no País e além-mar. 

Assim, em Edimburgo/Escócia, pela primeira vez o maior festival de arte do mundo (o Fringe) recebeu uma peça brasileira: Isto É um Negro, que trata de um estudo sobre o que é ser preto no Brasil e sobre o que é ser um artista negro hoje. As 16 sessões da peça foram possíveis graças a uma parceria da OEI com o governo de São Paulo.

Em outubro, o MAR hasteou sua nova bandeira: a imagem de uma mulher negra cuspindo espadas de Iansã, Orixá feminino de grande força e presença na cultura afro-brasileira, propondo reflexões sobre o feminismo, o lugar de fala da mulher negra e a nossa ancestralidade africana. Inspirada pelo conceito de Pretuguês da filósofa Lélia Gonzalez, a obra foi criada especialmente para o Museu pela artista Rosana Paulino

Seguindo a Carta Cultural Ibero-americana, instrumento norteador de política cultural de maior importância e alcance na região, aprovado na XVI Cúpula de Chefes de Estado e de Governo de 2006, em Montevidéu, a OEI vem ampliando o escopo de atuação por meio de parcerias com governos subnacionais e organizações da sociedade civil para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Seguimos firmes no propósito de honrar a nova bandeira do MAR, preservando e valorizando a memória de nossa ancestralidade afro-brasileira no País e na região.