8ª Edição do Prêmio Educar 2022 premiou 16 projetos antirracistas criados por professores e escolas
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Celebrar e enaltecer para esperançar
Esses três verbos traduzem fielmente a entrega do Prêmio Educar para a Equidade Racial e de Gênero 2022, que aconteceu quarta-feira,19, em São Paulo. Iniciativa promovida há 20 anos pelo CEERT – Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades - e diversos parceiros, o prêmio revela projetos que contemplem uma educação com base na equidade racial e de gênero. Nessa edição, que contou com o apoio da Fundação Roberto Marinho, 736 inscrições de todo o país mostraram que é possível ter acesso amplo a práticas educacionais mais justas, dignas e igualitárias.
Durante a cerimônia, realizada no teatro do Sesc da Vila Mariana, o público se emocionou com a força das palavras de origem africana que iam ecoando, de forma mágica, como ubuntu e axé, ditas em voz alta por professoras, mulheres pretas em sua maioria, que subiam ao palco para receberem seus prêmios. Em cada palavra, a força das matrizes africanas que inspiraram uma educação transformadora, antirracista, que traz equidade e esperança para o chão de escola no Brasil.
Ubuntu: para os africanos, é a capacidade humana de compreender, aceitar e tratar bem o outro. Uma ideia semelhante à do “amor ao próximo”
Professoras como a Danielle Cardoso, que leciona há dez anos na Escola Municipal Florestan Fernandes, na capital mineira, Belo Horizonte, e trabalha com o projeto “Mulheres Negras, símbolo de luta e resistência, uma fonte de inspiração”. Para ela, a pauta racial é uma forma de trabalhar a imagem das crianças. “Desde 2018 venho trabalhando o projeto antirracista em sala de aula. Porque fortalecer a identidade racial das crianças é fortalecer a autoestima. É possibilitar que a criança seja livre para aprender e se sentindo valorizada”, declara.
As instituições públicas de ensino também foram agraciadas, como o Centro de Educação Infantil 01, em São Sebastião, DF, que criou o projeto “Festival da Valorização da Cultura Afro-Brasileira e Indígena: a equidade nas diferenças”. “Em 2012, a escola registrou vários casos de racismo entre alunos e professores. E o corpo docente pediu que trabalhássemos as leis 10.639/03 e a 11.645/08. Juntando as questões de racismos, a inquietação das professoras e a chegada de uma aluna da Nigéria, pois para nós o continente africano era algo bem distante, foi sendo pensado o projeto”, conta a coordenadora, Francineia Alves da Silva.
Axé, na língua iorubá, significa poder, energia ou força presente(s) em cada ser ou em cada coisa
Ao todo, 16 projetos foram destacados pelo Prêmio Educar 2022. Porém, o modelo de premiação não coloca os participantes em um ranking. É o que explica o coordenador do prêmio, Billy Malachias. “Elegemos práticas exitosas que é a aplicação do que as instituições de ensino e os professores têm sobre o que é a prática de equidade. Uma vez que reconhecemos um país de dimensão continental diverso, desigual e também do ponto de vista regional, não teríamos parâmetro para ranquear a prática. Logo, buscamos um êxito a partir das realidades locais”, avalia.
Após duas décadas de premiação, o CEERT conseguiu formar um acervo de experiências de gestão e práticas pedagógicas antirracistas em ambiente escolar para o mundo.
Cida Bento, fundadora do CEERT
Além da exposição de seus projetos a profissionais do ensino público e privado, representantes de organizações e pesquisadores do Terceiro Setor, o Prêmio Educar rendeu aos vencedores um aporte financeiro, materiais didáticos, programas de formação e equipamentos para suas escolas.
Premiados 2022 de Norte a Sul
Com um total de três finalistas da Bahia, a cidade de Salvador se destacou com os projetos: ‘O que há de América em nós’, da Escola Maria Felipa e o ‘Núcleo de Empoderamento, Linguagem e Tecnologia’, do Colégio Estadual General Dionísio Cerqueira. Também da Bahia, da cidade de Lauro de Freitas, o projeto ‘Caminhos Afirmativos para uma Educação Antirracista na Educação de Jovens e Adultos’ da Escola Municipal Jacira Fernandes Mendes foi mais um dos projetos baianos aprovado pelo júri de especialistas do CEERT.
O estado de Minas Gerais tem quatro práticas premiadas, todas da capital Belo Horizonte. São elas: ‘Promoção da Igualdade Racial’, da Escola Municipal Anne Frank; ‘Contos e Dengos por Uma Formação Identitária Positiva’, da Escola Municipal de Educação infantil Itamarati; ‘A Literatura Escrita por Mulheres Negras: uma experiência de leitura na alfabetização’, da Escola Municipal Florestan Fernandes e o ‘Projeto Intercâmbio Raízes Angola Brasil’, das Escola Municipal Lídia Angélica (Brasil) e do Instituto Politécnico Edik Ramon (Angola).
Representando a região Centro-Oeste do Brasil, da cidade de São Sebastião, no Distrito Federal, o premiado foi o ‘Projeto e Festival da Valorização da Cultura Afro-Brasileira e Indígena: A equidade nas diferenças’, do Centro de Educação Infantil I de São Sebastião.
Do Norte do país, da cidade de Bujara, no Pará, o projeto selecionado foi o ‘Afrobetizando alunos para a construção de sua Cultura e Identidade’, da Escola Municipal de Ensino fundamental São Judas Tadeu. A proposta nortista é desenvolver ações que permeiam as características étnicas e culturais dos diversos grupos sociais do povo brasileiro, assim como também as desigualdades socioeconômicas e a abordagem crítica sobre as relações sociais discriminatórias e excludentes, agregando ações relativas à diversidade, visando a inclusão das temáticas étnico-raciais no currículo escolar.
Com a terceira maior população negra do Brasil, o estado do Maranhão ganhou destaque na premiação ao abordar a temática sobre o desdobramento da cultura da resistência negra nos quilombos. O projeto ‘Intercâmbio e Cultura: uma análise entre os Quilombos Damásio e Liberdade (MA)', do Instituto Estadual de Educação Ciência e Tecnologia do Maranhão (Unidade Plena Itaqui-Bacanga) visa impactar positivamente na autoestima dos estudantes quilombolas da unidade de ensino. A ideia é resgatar, valorizar e disseminar conhecimentos a respeito da cultura dos povos quilombolas.
Da fronteira com a Argentina e o Uruguai, no extremo Sul do Brasil, as cidades de Porto Alegre e Triunfo no Rio Grande do Sul, tiveram selecionados os projetos ‘Akotirene Kilombo Ciência’, que já foram aplicados em escolas da região. O projeto tem como proposta elencar práticas pedagógicas inspiradas na matriz africana, unindo saberes diferentes para formação de seres humanos, além de incentivar estudantes negros e negras nas ciências exatas.
O estado do Espírito Santo emplacou dois projetos de cidades distintas. O primeiro é de Vargem Alta, a 136 quilômetros da capital Vitória, intitulado ‘No Chão da Escola Quilombo: o (re)significar do projeto político pedagógico da Escola Municipal de Educação Básica Pedra Branca- Vargem Alta. Já o segundo projeto ‘Malizeck da Diversidade’ vem da Escola UMEF Professor Luíz Malizeck, da cidade de Vila Velha.
Encerrando a lista dos premiados, três vencedores do estado de São Paulo. O primeiro é o projeto ‘Resgatando identidades: o Dia da Consciência Negra e o papel do negro na construção do Brasil’, da Escola Profª Joana de Aguirre Marins Peixoto, da cidade de Monte Mor, município que integra a região metropolitana de Campinas. O segundo projeto aprovado foi o ‘Agenda Antirracista’, da cidade de São Vicente. E vem da capital paulista o terceiro vencedor do estado: ‘Mulheres negras, símbolo de luta e resistência, uma fonte de inspiração’.
Para o educador Paulo Freire, esperançar é se levantar, é ir atrás, é construir, é não desistir, é levar adiante. Esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo. Exatamente como fizeram os vencedores do Prêmio Educar 2022 pela educação brasileira. Ubuntu!